"por que deixas os jovens sem futuro?"
“Pobre Pátria cujos filhos foram deserdados”
Déa Januzzi
Oh, pátria minha, acordei hoje com vontade de te dar colo, te acariciar e de te ninar. Passar a mão em teu rosto tão sofrido e maltratado, em tuas margens plácidas. Com um desejo ardente de beijar os teus olhos, que não conseguem mais ver a própria luz, encobertos pela descrença, pelas trevas do medo que congelam tuas veias. Teus sonhos foram roubados à luz do dia e ninguém fez nada.
Não consegues mais dar bons exemplos. O que fizeram contigo, pátria minha, que já não sabes o que é o bem ou o mal? Tenho vontade de chorar por ti, mas prefiro procurar um bálsamo para as feridas que abristes em tuas entranhas. São cicatrizes profundas, que marcam o teu solo e aprisionam o teu coração. São muitos os assassinos da pátria, que se envolvem em escândalos e mais escândalos. São os vampiros da pátria.
Nem todas as cruzes, as réstias de alho, as CPIs conseguem expurgar o mal, espantar os vampiros que sugam tua energia vital, a tua grandeza. Nem todos os incensos do mundo podem perfumar as tuas margens flácidas. Muito menos despertar o brado retumbante dessa gente tão cansada de promessas vãs. São mariposas que buscam a luz, mas acabam pisoteadas no chão.
Transformastes o teu ventre num grande presídio, onde os grilhões acorrentam os teus dias, onde a noite não é mais um lábaro estrelado. Que exemplo, mãe-pátria, estás dando aos teus filhos jovens que ainda precisam de ti? Perdeste o controle, as rédeas do teu galopar. O que podem fazer os teus filhos jovens, se os líderes hoje estão sendo formados nas penitenciárias dessa pobre pátria desvalida? Onde estão os teus filhos ilustres? Os teus heróis? Nem mesmo os ídolos do futebol conseguiram corresponder à tua ânsia. Nem eles puderam erguer, outra vez, o orgulho nacional. Nem todo o verde e amarelo da tua roupagem foi capaz de cobrir a violência sofrida por teus filhos.
O que fizeram de ti, pátria minha, que já não consegues mais ser amada e idolatrada por teus filhos? Levantei com vontade de fazer bolhas de sabão, para colocar os políticos, os ministros, os juízes que não souberam honrar o teu nome – e soprar essa bolha para bem distante de tuas fronteiras, para a solidão dos desertos ou para as terras geladas da Sibéria, onde seriam condenados ao degredo eterno. Onde estás Tiradentes, a morrer pela pátria? Onde estás Tomás Antônio Gonzaga a fazer sonetos enquanto esperas a liberdade do teu povo? Onde estás Felipe dos Santos, cujo corpo foi arrastado pelas ruas dessa pátria em nome de um ideal? Libertas quae sera tamen, para essa pátria sem comando.
Pátria minha será que não tens mais orgulho? Que entregastes os pontos e o ouro aos bandidos? A mãe-pátria envergonhada precisa de colo e afeto? Ou de uma outra Inconfidência? Minha pátria abandonada, por que deixas os jovens sem futuro, sem ídolos, sem modelos, sem valores. O que fazer com teus filhos jovens que não sabem mais o que é certo ou errado? Oh, pobre pátria, sem parâmetros para as futuras gerações. Que pátria é essa que não consegue mais dar Norte aos teus filhos? Que não vê os teus velhos? Que tapa os olhos para o envelhecimento populacional? Que violenta as mulheres? Que não abençoas as mães? Que estupra a dignidade de ser para ter?
Pobre a pátria cujos filhos são deserdados e não podem mais acreditar em nada. Nem no poder constituído. Oh, pátria minha, que não és mais gentil nem tão garrida. Como podes ser tão madrasta?
Oxalá, pátria amada, que não respeitas tua diversidade religiosa. Alto lá, candidatos ao poder: cada um com teu credo, mas todos unidos na fé. Cada um com teu mantra, com tua reza, com tuas bênçãos, com teus rituais. Oh, pátria dolorida que não respeitas os teus rios, que não olhas para o céu, que derrubas as tuas árvores, que destróis o teu verde, as tuas reservas, em nome do lucro e da ganância. Pátria, por que não tens cuidado com teus filhos diferentes? Por que queres curar teus filhos que abraçam outra orientação sexual? Oh, pátria minha, tens lugar para todos.
Oh, pátria desalmada, não vês as lágrimas dos teus filhos? A dor dos teus órfãos, que não confiam mais em ti? Que estão desamparados, entregues à própria sorte, sem fé, sem Deus, sem afeto, sem utopia? Que não reconheces a tua verdadeira cor? Os teus negros e índios? Que és selvagem com teus filhos?
A noite chegou, pátria sonâmbula, com todos os teus fantasmas. Os pesadelos tomaram conta dessa longa noite que não termina nunca, enquanto teus filhos se debatem desamparados de um lado ao outro desse berço nem tão esplêndido assim. Há um ruflar de tambores nesse caminho da forca. Mas espero abrir os olhos a tempo e despertar desse pesadelo, dessa escuridão que se fez sobre o Brasil, dessa manhã que nunca chega.
Déa Januzzi é jornalista e escritora
Blog de amagiadeeducar : A Magia de Educar, 7 de setembro como comemoramos esta independencia...Oh!!! Brasil ?
Meu comentário e o grito que está atravessado em minha garganta:
Nossa, Dea Januzzi foste severa, ao mesmo tempo altaneira e varonil. Falaste cobrando o necessário para que nossa pátria devolva com honra o que tem perdido por seus próprios filhos desalmados, sem brasilidade
Foi firme ao cobrar ,acho uma lástima, deixar uma herança maldita as futuras gerações
Teu grito, amiga contra a inercia com os velhos, as mulheres , as crianças. É… temos pouco ,sim, a comemorar amanhã ,nesse 7 de setembro.
Mas um grito fica atravessado na minha garganta, essa pátria é jovem, esplendorosa, e seus filhos se perderam,no mundo do ter , e ela mãe querida que pode fazer?
Mesmo em pranto hei de comemorar meu sete de setembro .
Viva o Brasil!!!!!
Bjs Dirce Saléh